De Barnier para Bayrou. França tem novo primeiro-ministro

por RTP
Passagem de pasta em Matignon, sai Michel Barnier, entra François Bayrou Foto: Gonzalo Fuentes - Reuters

Michel Barnier recebeu esta tarde, em Matignon, François Bayroux, designado para o substituir à frente do executivo francês, a quem passou a pasta num encontro de cerca de meia-hora.

A primeira missão do novo primeiro-ministro, o quarto desde a reeleição de Macron em abril de 2022 para um mandato de cinco anos, será precisamente formar uma equipa, e apresentar o seu programa. Recuperar a estabilidade num parlamento extremamente dividido e sem maioria definida, e reconciliar os franceses com a política, vão ser dos maiores desafios. “Tentarei servir esta reconciliação necessária”, prometeu Bayrou.

O novo primeiro-ministro mostrou ter consciência do que o espera. "Conheço bem as dificuldades desta situação", afirmou ao discursar após a reunião com Barnier.

Prometendo palavras curtas, "para não se comprometer", o novo chefe do executivo francês falou do défice e da dívida, devido à herança que poderão deixar às gerações futuras. Prometeu não esconder a realidade e admitiu a obsessão de se aproximar dos cidadãos e libertar o debate de palavras artificiais.

"Défice e dívida são também um problema moral", afirmou Bayrou, prometendo fazer tudo para os baixar de forma a aligeirar o fardo dos franceses, garantindo que a sua conduta "será não esconder nada"

"Temos o dever de enfrentar a situação" de "procurar o equilíbrio", referiu.

“Diante de uma situação de tamanha gravidade, a minha atitude será não esconder nada, não descurar nada e não deixar nada de lado”, afirmou François Bayrou, evocando a “tentação” que consistiria o concentrar-se em “um ou dois assuntos” e deixar o resto ser feito “na mediocridade”.

“Eu não escolho essa linha”, disse. "Penso que temos o dever, num momento tão grave para o país, para a Europa e face a todos os riscos do planeta, de enfrentar de olhos abertos, sem timidez, a situação que é herdada de décadas inteiras marcadas pela ausência de busca dos equilíbrios sem os quais é difícil viver”.
"Dever sagrado"
Bayrou apontou ainda a existência de "uma divisão, uma parede de vidro, entre os franceses e os poderes" e prometeu fazer o possível para a ultrapassar.

“Venho de origens sociais e aldeias que não têm a oportunidade de ser protegidos ou favorecidos. Acho que o nosso dever como cidadãos, como pais de família, o nosso dever como republicanos, é estarmos obcecados em dar oportunidades a quem não as tem. É para mim um dever sagrado”, afirmou François Bayrou.

Invocando Henrique IV, que “fundou o seu encontro com a França em tempos tão difíceis, mais difíceis do que aqueles que vivemos hoje”, o governante prometeu no final do discurso que, “se puder, por minha vez, tentarei servir esta reconciliação necessária e penso que este é o único caminho possível para o sucesso”.

François Bayrou não vai ter uma vida fácil sob a ameaça constante de um voto de censura como o que afastou o antecessor, Michel Barnier, que ocupou o cargo uns meros três meses.

Bayrou agradeceu aliás a coragem demonstrada por Barnier ao aceitar o desafio antes dele. 

“Gratidão como cidadão pelo risco que correu para exercer esta função, por ter enfrentado a dificuldade dos tempos – Deus sabe que essas dificuldades dos tempos são importantes –, pela abnegação que demonstrou", afirmou Bayrou, logo no início da sua intervenção e lembrando os inícios, lado a lado, das carreiras políticas de ambos.
A despedida de Barnier
Por seu lado, o primeiro-ministro cessante frisou que "sabia desde o primeiro dia, 5 de setembro, que o tempo do meu governo estava contado, sob a ameaça de uma aliança improvável entre forças políticas completamente opostas mas reunidas nas circunstâncias, num desejo de bloqueio e confusão".

“Colocámos o Estado de volta aos trilhos”, acrescentou. "Lançámos projetos e começámos a implementar os compromissos assumidos com os agricultores, com a segurança, com os hospitais e com a saúde mental".

Num balanço do trabalho deixado, Barnier lembrou o motivo do afastamento.

“Propusemos um orçamento, um orçamento difícil, onde tudo era difícil, para reduzir o nosso défice. E com a maioria dos parlamentares, nomeadamente no Senado, estivemos perto de um acordo equilibrado”, referiu, sublinhando que “este défice não desapareceu como num passe de mágica com uma moção de censura”, um recado àqueles que se uniram para o afastar.
Esperar para ver
Perante a nova escolha de Macron, as reações políticas são sobretudo de expectativa. A aliança das esquerdas francesas afigura-se, por isso, dividida.

A LFI, La France Insoumisse, de extrema-esquerda, quer censurar o governo de Bayrou o mais rapidamente possível. Os parceiros, Partido Socialista e Partido Comunista, admitem um possível acordo de não censura, se François Bayrou se comprometer a não recorrer ao artigo 49.3, como tentou o seu antecessor, para fazer passar legislação controversa.

Já o Rassemblement Nacional, a extrema-direita de Marine Le Pen, pretende dar uma oportunidade ao novo inquilino de Matignon. Bayrou tem uma posição próxima do RN quanto aos desafios colocados pela imigração.

O Ensemble pour la Republique, EPR, irá tomar posição após uma reunião, este sábado pelas 11h00, do seu grupo parlamentar em vídeoconferência, anunciou Ludovic Mendes, do partido presidencial, para quem Bayrou pode ser a "pessoa que sabe fazer".

os Republicanos admitiram vir a participar no executivo de Bayrou, dependendo do "projeto" que o novo primeiro-ministro irá apresentar. "Sempre dissemos que não iríamos bloquear. O que conta é o roteiro", lembrou o líder, Laurent Wauquiez.
Uma longa carreira
O líder dos centristas do Modem, com 73 anos, foi designado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para o cargo de primeiro-ministro e "encarregue de formar um governo".

A decisão foi conhecida esta sexta-feira ao cabo de quase duas horas de reunião entre ambos no Palácio do Eliseu, em Paris.

Bayou é tido como negociador capaz de juntar as opiniões adversas.

Conhecido na política francesa há décadas, é apoiante de Macron de quem foi ministro da Justiça. Demitiu-se poucos meses depois devido a um escândalo de assistentes fictícios na Assembleia Nacional, processo no qual foi ilibado este ano. O Ministério Público recorreu e esse processo ainda decorre.

Na sua longa vida política foi também deputado e ministro da Educação em dois governos presididos por Jacques Chirac e era, até ontem autarca de Pau.
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